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Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME)

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Por Carolina de Freitas Pereira

A Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME) foi criada em 1990 com o objetivo de articular as lideranças Indígenas desta área para a defesa dos direitos desses povos. De acordo com o último levantamento realizado em 2020 pela Associação, os povos e territórios Indígenas na área de abrangência da APOINME totalizam 102 povos Indígenas distribuídos em 10 (dez) estados e 03 (três) biomas – Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado.


A trajetória do movimento é umbilicalmente articulada ao protagonismo das mulheres Indígenas na busca por autonomia e ampliação de suas vozes e de seus povos. Em 2021 o Fundo Guardiões da Terra (Keepers of the Earth Fund – KOEF) ajudou a viabilizar a realização da II Marcha de Mulheres Indígenas, que aconteceu em Brasília entre os dias 07 e 11 de setembro, com o tema “Mulheres originárias: reflorestando mentes para a cura da Terra.”


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A II Marcha de Mulheres Indígenas teve como objetivo fortalecer o movimento Indígena como um todo, proporcionando a participação, ampliação e articulações políticas especialmente para mulheres, juventude, terra e território. A Marcha não seria realizada neste ano devido ao contexto da pandemia, contudo, a mobilização Indígena se fez imperativa diante das violações de direitos e violências extremas que vem sofrendo os povos Indígenas e o meio ambiente. Para as mulheres Indígenas, era fundamental estarem unidas em defesa da manutenção de seus costumes e tradições, conhecimentos tradicionais e para as presentes e futuras gerações.


Estiveram presentes na Marcha Indígenas de todo o Brasil, já mobilizados em Brasília por causa do Acampamento Terra Livre – Luta Pela Vida, do julgamento da Terra Indígena La Klanõ, do povo Xokléng, Santa Catarina que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e em função das comemorações do dia da Independência do Brasil (7 de setembro), quando foram organizados vários protestos pró e contra o presidente Jair Bolsonaro.


A expectativa de público para todo o evento da marcha era de 3.000 pessoas mas com a permanência dos parentes mobilizados em torno de todos esses eventos o número de presentes na Marcha chegou a aproximadamente 7.000 pessoas. Conseguir manter todos em segurança, alimentados, hidratados e com disponibilidade de máscaras e álcool 70% seguindo os protocolos sanitários para a Covid-19 foi um grande desafio no acampamento e na Marcha. Para as mulheres contempladas pelo Fundo, a coletividade e a sintonia entre gêneros e gerações foram os elementos que levaram à agregação de força, coragem, esperança, ancestralidade, tradição, cultura e espiritualidades para vencer os obstáculos.


As palavras de ordem da II Marcha de Mulheres Indígenas foram usadas para enaltecer todos os biomas, aludindo às mulheres-biomas, tais como “mulheres terra”; “mulheres sementes”; “mulheres água”; “mulheres raízes”; “mulheres espirituais”. Outra expressão muito enunciada se relaciona com o tema da primeira Marcha realizada em 2019: “mulheres corpo-território e espírito”. Além disso, foi ecoado a todo tempo o tema atual do movimento dessas mulheres: “somos a cura da Terra”.


Outras demandas que a II Marcha de Mulheres Indígenas fez ecoar foram: “demarcação já”; “não ao marco temporal”; “não ao Projeto de Lei (PL) 490”; “guerreiras da ancestralidade”; “mulheres Caatinga”; “mulheres Mata Atlântica”; “mulheres Cerrado”; “sangue Indígena, nenhuma gota a mais”; “somos resistência”, “fora Bolsonaro” e “fora genocida”.


O Fundo Guardiões da Terra (KOEF) é coordenado por Indígenas que compõem a Cultural Survival e tem o propósito de apoiar projetos de desenvolvimento comunitário e de defesa dos Povos Indígenas. Desde 2017, por meio de pequenas subvenções e assistência técnica o KOEF deu suporte a 190 projetos em 37 países, totalizando um montante de 828.067 dólares. O Fundo provê, em média, 5.000 dólares para movimentos de base comunitária, organizações e governos tradicionais liderados por Indígenas para apoiar projetos autodeterminados de desenvolvimento baseados nos valores Indígenas. Fundamenta na Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos Indígenas, a Cultural Survival usa uma abordagem baseada em direitos em suas estratégias de doação para apoiar soluções Indígenas de base por meio da distribuição equitativa de recursos para comunidades Indígenas.